Por Sophia Lopes, da Fiquem Sabendo, para o Monitor de Dados Socioambientais
Como tudo no Brasil, um dos doces mais consumidos pelos brasileiros, o leite condensado, virou meme no Twitter. E também nome de CPI. Em suma, alavancou o interesse público pela execução do orçamento do governo.
Com a repercussão dos dados, a Secretaria de Gestão do Ministério da Economia admitiu que detectou uma “aparente incongruência nos gastos, decorrente de falhas técnico-operacionais no preenchimento dos formulários e no tagueamento das despesas, o que elevaria, equivocadamente, os valores apresentados pela plataforma ComprasNet”.
A polêmica em torno dos números pode ser analisada de diversos ângulos, mas um dos mais relevantes é a constatação de que os dados públicos são frequentemente disponibilizados de forma incompleta e imprecisa, dificultando o entendimento dos usuários, sejam eles parte da imprensa ou cidadãos. O fenômeno não afeta só a despensa de órgãos públicos; interfere no controle de gastos em políticas importantes como a gestão do meio ambiente.
Este é um relato de uma repórter em busca de uma resposta que deveria ser simples: quanto dinheiro o governo dedicou à proteção ambiental nos últimos 5 anos?
A missão que recebi do Monitor de Dados Socioambientais, projeto desenvolvido pela Abraji, Transparência Brasil e Fiquem Sabendo, com apoio da Fundação Ford, foi levantar os orçamentos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Deveria bastar entrar no Portal da Transparência, selecionar os órgãos responsáveis e o período, certo?
Foi o que fez o comediante Nil Agra, por exemplo, ao comentar o orçamento do Inpe: “Quinze milhões de reais [do leite condensado] é cinco vezes o orçamento do Inpe, o instituto que controla o satélite que vasculha a Amazônia para saber se tem desmatamento ou queimada. Três milhões de reais para um satélite ele não pega nem rádio gospel”, brincou o humorista.
Num primeiro momento, cheguei ao mesmo resultado que Nil. O orçamento irrisório para um órgão tão importante seria de arrancar risos de desespero, se fosse verdade. Se procurarmos o orçamento do Inpe no Portal da Transparência, realmente veremos o valor inicial de R$ 3 milhões para 2020. Entretanto, ao fazer a busca pelas ações orçamentárias do órgão, encontramos uma previsão de R$ 34,8 milhões naquele ano. No Painel do Orçamento, a mesma busca por ações orçamentárias chega a R$ 22,5 milhões. Por sua vez, a Lei Orçamentária Anual (LOA 2020) determinou repasse de R$ 118,2 milhões, conforme noticiado pela imprensa.
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